quarta-feira, abril 19, 2006

Perdas no caminho

Perdas no caminho
Pedras que se me atiram
Tiram-me o fôlego
De tão graves e pesadas
Nas pernas o cansaço
Perdas... minha sina
Pedras tão agudas
São sinais, são pegadas
De um passado que passa
São passos, são traços.
Destroços que olham para trás
E vêem que o caminho se faz
São sinos no alto da torre
Da Catedral da vida
Badalam o compasso do tempo
A cadência da lida
Entre a queda e o renovo
A estação da espera
Do sombrio inverno
À luxuriante primavera
Caminho sem rastro
Nem risco não há
Não há nada a fazer
Senão caminhar

Pedras no caminho
Perdas brutas, impiedosas
Não mais as tiro do destino
Eu choro os ais
Eu canto o luto
Sim... dor eu sinto
Não tenham dó no entanto
Pedras... Perdas...
São apenas a mó
Onde choram as águas
Libação sobre o moinho
Malha-se o grão
Esmaga-se a uva
Na mesa pão e vinho
Sim... Inda insisto
Eu me arrasto e luto
Mãos no martelo e cinzel
Entalham bravas esculturas
Nos pés calejados o pó
O pó rude que burila lhaneza
Das pedras em brasas
O brilho quente do fogo viceja
Sopra o vento as cinzas
Traz o tempo o fulgor da ternura


Júlio Diniz

Um comentário:

Cenita disse...

Obrigado por me trazer de volta um passado de felicidade, paz, esperanças...
bjs
Cenita